Todo o Dinheiro do Mundo

Uma das famílias mais ricas do século passado e, possivelmente, o primeiro homem a atingir a fortuna de 1 bilhão de dólares. Esse é o centro da história real do novo longa de Ridley Scott, que já chega aos cinemas chamando a atenção por trocar o ator Kevin Spacey por Christopher Plummer, mesmo que o primeiro já houvesse terminado as filmagens. Isso mostra, cada vez mais, a intolerância (acertada) de Hollywood contra seus acusados de assédio e como a indústria é capaz de se beneficiar até disso, como um marketing indireto.
Todo o Dinheiro do Mundo é um drama que começa bem, mostra seu ritmo desacelerado e foca na explicação das relações da família Getty. Essa base é, sem dúvidas, importante para estabelecer cada personagem e sua função na trama, desenvolver cada característica e preparar o terreno para a história que está por vir. O maior problema, porém, talvez seja exatamente esse. O roteiro parece perder a mão e se arrastar demais, buscando, por toda a projeção, o mesmo ritmo explicativo do início, gerando certo desconforto e ansiedade no espectador. Tal expectativa seria um prato cheio se o filme apostasse no suspense e investigação, mas deixa de lado o personagem de Mark Wahlberg, que vive um ex-espião, chefe da segurança da família, inutilizado por um roteiro que o transforma em motorista de Gail Harris, protagonista do drama com excepcional interpretação de Michelle Williams.
Ajudada, e muito, pelo trabalho de Williams e Plummer, este que, ao entrar no lugar de Spacey, regravou todas as cenas do ator e conseguiu até a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante, a história é interessante e se sustenta, basicamente, pelas ações inesperadas do velho John Paul Getty, que se recusa a pagar o resgate pelo sequestro de seu neto, o jovem Paul Getty III (Charlie Plummer). O design de produção é outro fator louvável da obra que, potencializado pela fotografia, cria um clima de antipatia aos luxos e excentricidades que a riqueza traz, enquanto expõe o calor e aconchego nas cores quentes dos ambientes menos rebuscados. Nesses quesitos técnicos é notável que Ridley Scott ainda sabe bem o que está fazendo, bem como dar um toque especial aos seus trabalhos.
Declaradamente e, mais uma vez, deixando bem explicado, a trama toma a liberdade de transformar alguns diálogos reais e adicionar personagens em prol da dramaticidade, o que é perfeitamente compreensível se não fosse o exagero de tal recurso, de forma repetitiva, ao longo das mais de duas horas de duração. Ao ficar levantando hipóteses e prometendo reviravoltas, a conclusão acaba deixando o público com a sensação de uma narrativa desonesta. Ainda que seja uma ótima produção e reconhecidamente uma história de grande importância, a satisfação, no fim das contas, é suprimida por um sentimento estranho de um bom filme com grande potencial desperdiçado, mas que merecia ir muito além disso.