Planeta dos Macacos: A Guerra
Um dos motivos pelos quais a franquia Planeta dos Macacos continua sendo revitalizada nos cinemas desde a década de 60 é sua capacidade incrível de se manter atual até então. A ânsia da raça humana em dominar a natureza é um dos pilares da trilogia que chega ao fim falando em guerra.
A verdadeira guerra, aliás, fica reservada ao título do longa e seu subtexto complexo e cheio de nuances. Com uma crescente desde Planeta dos Macacos: A Origem (2011), esse é o momento em que os símios tomam o controle total da situação, sendo protagonistas de um filme que reduz o núcleo humano a figurantes sem personalidade ou voz ativa, com exceção do próprio antagonista, o coronel vivido por Woody Harrelson. Nessa inversão de papéis fica clara a pretensão do diretor Matt Reeves, que determina a forma de contar a história do ponto de vista do primata César (Andy Serkis).
Visualizando a obra dentro do escopo geral da trilogia, A Guerra é, certamente, o projeto mais ambicioso dos três filmes. Contendo uma enorme quantidade de referências que vão desde outros clássicos da história, como Apocalypse Now (1979), chegando a mostrar, inclusive, cenas de crucificação e escravidão relacionando a trama com religião, o longa tem intensão de atingir o patamar de épico e se esforça para isso. A captura de movimentos, responsável por dar vida aos macacos, é simplesmente incrível. A tecnologia empregada na construção das faces dos personagens dá aos atores a capacidade de expressar toda a emoção necessária a cada cena. Serkis, que segura a trama nas mãos, entrega um líder sofrido e cheio de camadas morais a serem discutidas. Essa percepção de personagem se deve, principalmente pela atuação diferenciada e dedicada que imprime expressões perfeitas para o símio. Com a ajuda da trilha sonora que permite crescimento das cenas e a bela fotografia que enche a tela com lindos enquadramentos, esse terceiro capítulo de Planeta dos Macacos é, tecnicamente, impecável.
Nessa infinita busca por emular o desfecho perfeito, porém, Reeves talvez tenha se perdido na escolha do enredo. O desenvolvimento de César e sua tribo é completo, compreensível e necessário, mas toda a trama que leva o macaco a chegar em seu objetivo nesse capítulo final parece apenas uma linha de apoio para a aguardada conclusão. O roteiro, ainda que tenha ótimos momentos de inspiração e apresente novos bons personagens, desliza nas motivações e justificativas sem sentido que utiliza para progredir a história. E essa fraqueza dá as caras justamente no ponto fraco da obra: os humanos. O Coronel e sua tropa utilizam seus todos os seus recursos para lutarem por uma causa completamente perdida e subutilizada. Apenas a reviravolta e a fuga dos macacos, a briga pela sobrevivência, têm real valor narrativo.
Fechando a trilogia com sentimento de missão cumprida, Planeta dos Macacos mostra, através de animais ditos como selvagens, o quão primata pode ser a humanidade e sua busca incessante para dominar aquilo que não tem controle.