O Espaço Entre Nós

Comédias românticas costumam seguir um padrão extremamente formulaico. Poucas são as produções que se arriscam a mesclar gêneros com esse tipo de filme que já possui um público fiel. Por outro lado, é virtude dos atuais romances voltados aos adolescentes tentar escapar da mesmice trabalhando outras características para a subtrama. E é com essa peculiaridade que O Espaço Entre Nós chega se destacando nesse mercado saturado.
Com a premissa criativa de um nascimento não planejado de um humano em solo marciano, o longa desperta curiosidade na inclusão do que parece ser uma grande dose de ficção científica para a trama. Tratando até mesmo de assuntos como a ética por trás dos procedimentos espaciais da NASA, a história mostra o engenheiro Shepherd, vivido de forma meio automática, sem exageros, pelo renomado ator (Tato Gabus Mendes) Gary Oldman, comandando da Terra uma missão que envia astronautas à Marte. Ao descobrir, já no decorrer da viagem, que uma das astronautas estava grávida, Shepherd se vê entre problemas operacionais em trazer a nave de volta e problemas de relações públicas caso o ocorrido vaze ao resto do mundo, optando por manter o segredo e os planos, sentenciando a criança a nascer no planeta vermelho.
O início interessante, porém, sofre com o rápido avanço do tempo, já que o foco da narrativa é Gardner (Asa Butterfield), já mostrado com seus infelizes 16 anos sem nunca ter saído de Marte. Nesse momento, o filme trafega para o drama adolescente e revela toda a fragilidade da parte científica que tentava abordar. Sem convencer, o roteiro apenas joga para o público situações nada críveis, como uma amizade virtual do menino com uma adolescente problemática que vive na Terra, chamada Tulsa (Britt Robertson).
Contando com uma série de acontecimentos favorecidos pelo roteiro, o filme passa a quase ignorar sua vertente sci-fi, tornando-se um road movie adolescente. Nessa proposta o roteiro é bem-sucedido e a trama se mostra realmente funcional na relação estabelecida entre os jovens protagonistas. Atributo esse que acerta em atingir o público alvo da produção, capaz de encontrar identificação e tirar risos nas melhores cenas. O problema fica pela quantidade de questões levantadas pela história que passa rápido demais por diversas situações, sem tempo de real desenvolvimento. A direção de Peter Chelsom falha em fundir todos os gêneros e subgêneros pretendidos para o longa de forma orgânica, deixando claras as mudanças de tom que costuram o filme. Sem a devida profundidade, o desfecho fica previsível e tira o impacto das reviravoltas, caindo na regularidade do clichê.
Partindo de um ponto diferenciado e atrativo o suficiente para angariar espectadores que, normalmente, não se interessariam por mais uma narrativa de amor adolescente, O Espaço Entre Nós, infelizmente, não sustenta de forma consistente essa diretriz e cai na zona de conforto onde disputará apenas o espaço na memória de fãs de tantos outros filmes do gênero. Nessa zona, porém, pode ser considerado distinto e minimamente corajoso por, ao menos, tentar inovar ao trazer a ficção científica como plano de fundo.