O Destino de Júpiter

Desde o filho pródigo, Matrix, os irmãos Andy e Lana Wachowski sempre causam barulho com seus novos filmes. Uma pena, porém, que apesar da esperança do público – e provavelmente dos próprios Wachowski – nenhuma estreia tenha chegado sequer aos pés daquele que fez o nome dos diretores figurarem entre grandes destaques cinematográficas.
A primeira regra que parece reger a produção de O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending) é a despreocupação. O filme não parece preocupado a dar explicações e, muito menos, a ter coerência com o crível ou o real, não se assegura em teorias ou na ciência. É uma obra totalmente desapegada e com suas próprias ideias. Desta forma, surgem alguns conceitos interessantes. O visual é bonito e os efeitos são incríveis. Alguns alienígenas, naves espaciais e ambientes são muito interessantes. O grande inimigo, porém, é tudo aquilo que não funciona bem e se sobrepõe ao resto.
A projeção tem uma amplitude de concepções muito elevada misturada a cenas que parecem mal montadas ou editadas, sem sentido ou sem continuidade. Como se não bastasse, o roteiro aposta em muitos assuntos que não apresentam forma satisfatória de conexão, passando rapidamente por cada um deles sem profundidade e importância. O resultado da combinação de tantos elementos soltos transforma o longa naquilo que podemos chamar de um verdadeiro filme-conceito, uma amálgama de todas as abstrações (bizarras) saídas das cabeças dos Wachowski.
Embora todo seu desprendimento das tendências de Hollywood em embasar seus filmes com pé na realidade, O Destino de Júpiter deixa transparecer que também bebeu da fonte de outros grandes sucessos atuais. A destruição na cidade de Chicago se assemelha, facilmente, ao que foi visto em Transformers 4 ou O Homem de Aço. A passagem da personagem principal, Júpiter (Mila Kunis), de uma humana qualquer até sua ascensão, presente no título e que a transforma em realeza, reivindicando sua propriedade pelo planeta Terra, passando por algumas burocracias do universo, se assemelha muito ao que vimos no primeiro Harry Potter, com o menino rumando à Hogwarts. Sem contar o protetor de Júpiter, um meio homem albino e meio lobo de orelhas pontudas, chamado de Caine (Channing Tatum), que durante uma grande sequência de ação, mantém o corpo de “lobisomem” à mostra, desnecessariamente, na ausência de camiseta.
Mesmo contando com um bom elenco, as atuações sofrem por um roteiro de frases ridículas. Em alguns (poucos) diálogos interessantes, a esperança de um aumento de padrão é eminente, mas em pouco tempo a mesmice toma conta e voltamos à rotina de vergonha alheia. O vilão Balem, interpretado por Eddie Redmayne, indicado ao Oscar de melhor ator por A Teoria de Tudo, é o maior exemplo de como as atuações não funcionam em Jupiter Ascending e, até mesmo, de como os personagens não convencem. Os tímidos alívios cômicos, infelizmente, também beiram o ridículo.
Nem tudo é ruim em O Destino de Júpiter. A fotografia é incrível, alguns cenários são muito inspirados e cenas de ação ainda se sobressaem mesmo com problemas como a longa extensão de sequências que parecem infindáveis e o infame par de patins flutuantes intergalácticos do personagem de Tatum. A trilha sonora tem momentos atordoantes, mas em suma é compatível com o universo do filme e faz bem o seu papel.
Depois das passagens confusas da protagonista, o longa não chega a mostrar de forma definitiva nem a ascensão proposta no título original, dando margem a uma possível continuação ou trilogia que, nitidamente, não será aguardada com furor por quase ninguém, se é que ainda vai acontecer. Após essa estreia, já não sei se o melhor caminho é continuar torcendo pela volta de uma boa atuação da genialidade dos irmãos Wachowski ou torcer, realmente, pra que parem por aqui.