Need for Speed

Toda adaptação cinematográfica vinda dos video-games nasce fadada à desconfiança. Need for Speed, conhecida e consolidada franquia dos jogos eletrônicos de corrida, não foge a esse preconceito e, por se tratar ainda de um estilo majoritariamente sem enredo, onde os carros são o foco, potencializa a possibilidade de fracasso nas telonas.
A partir dessa baixíssima expectativa e de trailers que, particularmente, não me animaram, a adaptação surpreende positivamente. A direção de Scott Waugh deu estilo ao filme que tinha tudo para dar errado. O enredo, mesmo que prático demais, se destaca pela importância dada aos carros, transformando-os quase em personagens tão estimados quanto os vividos pelos atores. A fotografia também valoriza os veículos e as cenas de corridas. Tomadas de câmera abertas mostram bem a paisagem, bem como câmeras posicionadas como a visão em primeira pessoa do motorista criam a relação com série de jogos, ponto muito acertado do longa.
Deixando de lado as máquinas e quesitos técnicos, a trama se esforça em entregar uma carga de emoção que não consegue atingir. Mesmo trazendo um ator em alta no momento, Aaron Paul, que estrelou, recentemente, a série Breaking Bad (com o personagem Jesse Pinkman), o elenco peca pela falta de carisma. Na cena mais importante para a motivação de todo o drama, não existe um envolvimento que faça o público compartilhar realmente da emoção retratada. A britânica Julia (Imogen Poots), que acompanha o protagonista Tobey Marshall (Aaron Paul), não parece ter uma função necessariamente importante, tendo participação essencialmente para preencher espaços e criar um laço afetivo com o personagem principal. Como destaque temos o ator Michael Keaton, como o organizador da corrida mais desejada do mundo dos rachas, cuja identidade é um mistério, porém, sem dúvidas, a interpretação é a mais inspirada do filme.
Ainda se tratando do roteiro preguiçoso, que não é de todo mal para uma adaptação de jogo sem história alguma, alguns momentos em particular chamam a atenção pela displicência. Para exemplificar, um personagem que está detido em uma cela do exército pede um iPad para acompanhar online a corrida ilegal e tem seu desejo atendido. No mesmo contexto, a personagem Julia pede um notebook em seu leito do hospital para assistir ao mesmo evento, também prontamente consentido. Para compensar as falhas, o foco nas corridas e perseguições deve ser estimado, uma vez que apresentam cenas competentes, ângulos simples e ilustram bem aquilo que os fãs estão acostumados a apreciar na franquia de games. Sendo impossível fugir de uma comparação, Need for Speed, inclusive, apresenta tais perseguições de forma mais lúcida e menos fantasiosa que a mostrada no maior concorrente do gênero nos cinemas, Velozes e Furiosos, dedicando-se mais aos carros e menos no desenvolvimento dos personagens.
Com as boas cenas do que realmente interessa somadas a uma trilha sonora igualmente acertada – destaco a música Roads Untraveled, do Linkin Park, presente também nos trailers – Need for Speed ainda não faz o suficiente para entrar na lista de filmes memoráveis, mas superando, e muito, a maioria das expectativas, consegue ser uma boa adaptação dentro dos moldes necessários e, melhor que isso, consegue até mesmo divertir os espectadores, embora seus 130 minutos.