Detona Ralph

Desde que li a primeira notícia sobre uma animação da Disney que traria ao cinema o mundo dos vídeo-games, a ansiedade para ver Detona Ralph (Wreck-It Ralph, em inglês) surgiu inevitavelmente. Confesso, também, que ao ler que era uma produção da Disney senti falta do nome Pixar, que é sinônimo de qualidade indiscutível no universo animado.
É impossível falar de Detona Ralph sem a esperada comparação com Toy Story, afinal. Ambos mostram um mundo visto de uma ótica diferente daquilo que estamos habituados. O clássico da Pixar nos fez imaginar o ponto de vista dos brinquedos em relação à nós, já o filme de Ralph aborda os bastidores da biosfera gamer no período em que os fliperamas encerram suas atividades diárias e, essa atmosfera diferenciada, torna tudo extremamente divertido. Com claras e frequentes referências à jogos clássicos e atuais, qualquer pessoa com mais de vinte anos e que teve contato com vídeo-game na infância terá um prato cheio para se deliciar com easter-eggs e personagens famosos de franquias como Super Mario, Street Fighter, Mortal Kombat, Pac-Man, entre outros.
O roteiro do filme é bem amarrado, a trama segue sólida do começo ao fim. Ralph é um vilão que cansou de ser maltratado pelos companheiros do seu jogo e não aguenta mais ser excluído pelos que idolatram Felix Jr., o mocinho da história. Vendo como única chance de mudar a situação à seu favor, o grandalhão decide sair de seu jogo e encontrar uma forma para ganhar a desejada medalha dada aos heróis e, assim, retornar vitorioso ao seu game. Vale ressaltar a forma criativa que encontraram para retratar o mundo por dentro dos fliperamas. O modo em que os personagens enxergam os jogadores, o transporte feito pelo cabo de energia das máquinas e os encontros na estação das tomadas. Todas essas minúcias enriquecem o universo fantástico e dão força à trama. Até este trecho, tudo caminha muito bem. A cada cena, uma nova descoberta nos enche os olhos, mas os problemas aparecem a partir de agora. Em busca da famosa medalha, Ralph acaba entrando em um jogo colorido, de corrida, chamado Sugar Rush e, nesse ponto, não se mantém o envolvimento que a história tinha até então. O ritmo diminui, as referências bacanas acabam e o apelo ao público infantil exala exageradamente. Aquele foco anterior ao público saudosista muda de figura, dando lugar aos doces, crianças e um vilão chato de Sugar Rush. Talvez o ponto mais legal aqui seja o lago de Coca-Cola e as estalactites de Mentos.
Uma surpresa boa ao assistir Detona Ralph é perceber o quanto a produtora da casa do Mickey foi influenciada pela sua produtora interna, a Pixar. É visível a evolução da Disney nessa animação: cenas épicas (como a reunião dos vilões anônimos), personagens carismáticos e bem formulados, história interessante, 3D competente e fotografias bonitas.
Com esse tanto de qualidades e pontos positivos, o deslize do enredo não é capaz de estragar a fama de Ralph e Felix Jr., que fazem bonito na telona. Com o sucesso conquistado e com a enorme gama de opções a serem exploradas, é quase certo que Detona Ralph será a mais nova franquia dos filmes de animação. Espero ver, em breve, uma continuação.